O brasileiro acordou hoje com uma dor no bolso. É que o Banco Central reajustou ontem, pela sétima vez seguida, os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, elevando-a para 14,25% ao ano.
Com o reajuste, a Selic retorna ao nível de outubro de 2006, quando também estava em 14,25% ao ano.
A taxa Selic é o principal instrumento do BC para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A dor no bolso justifica-se: a elevação da Selic reflete-se diretamente nos juros cobrados do consumidor. Assim, a tendência é de que os bancos também elevem ainda mais as taxas praticadas em suas linhas de crédito, principalmente empréstimo pessoal, cheque especial e o temido cartão de crédito.
Vale lembrar que no início deste mês, de acordo com pesquisa realizada pelo Procon-SP, a taxa média praticada pelos bancos nos empréstimos pessoais era de 6,23% ao mês, equivalentes a 106,42% ao ano. Ou seja, para cada financiamento tomado, o valor final a ser pago pelo consumidor mais que dobra. Para cada R$ 1 mil financiados, o consumidor pagará ao final de 12 meses R$ 2.064,20.
Já no cheque especial, os juros médios estavam em 11,49% ao mês, ou 268,78% ao ano. Neste caso, o valor final é duas vezes e meia superior ao empréstimo tomado.
Outras linhas de crédito também serão afetadas, como o crediário. Aliás, este é o objetivo da elevação da Selic. Encarecendo o crédito, ele quer esfriar o consumo, obrigando o comércio a baixar o preços e, assim, conter a inflação por tabela.
Mas há efeitos colaterais neste remédio muito ruins. A elevação dos juros aperta ainda mais o bolso das pessoas, fazendo aumentar a inadimplência.
Outro efeito ruim é que as empresas adiam os investimentos e, com isso, os planos de abertura de vagas para trabalho ficam na gaveta.
No comunicado divulgado pelo Copom, ontem à noite, indicou que os juros devem ficar neste patamar daqui para frente. É um agradinho depois do remédio amargo enfiado goela abaixo do consumidor.
Pouco depois do anúncio, as lideranças empresariais protestaram. O vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Mauro Miaguti, o governo, em vez de incentivar a produção, age para reduzir ainda mais a atividade econômica.
Já o Alencar Burti, presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo). Ele afirmou que todos os indicadores econômicos revelam que o País já está em recessão e que essa alta somente agravará a situação das empresas e dos trabalhadores.
O governo insiste em tentar curar a depressão da economia com o remédio dos juros amargos. O remédio é bom, mas para curar excesso de demanda, ou seja, quando tem mais gente querendo comprar do que mercadorias disponíveis para venda. Não é este o caso, agora, pelo contrário. Os lojistas estão encontrando muita dificuldade em vender seus produtos.
A crise está na falta de credibilidade das empresas em relação ao futuro da economia. Quando não há confiança, ninguém investe na produção e esconde o dinheiro que tem.
O Brasil precisa de um choque de confiança e, para isso, o remédio é outro.
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