O anúncio do pacote de medidas de austeridade, anunciado ontem pelos
ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, mais
parece uma cartada de quem tem de virar o jogo rapidamente a seu favor com
poucos trunfos à mão.
Com diversas ações, o governo pretende cobrir o enorme déficit fiscal
previsto para o próximo ano e ainda, de quebra, promover um superávit primário
de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016. O problema é que as medidas de maior peso nesta
estratégia são muito impopulares e dependem de complicadas negociações com quem
não está muito disposto a engolir o caroço.
Parte das medidas são de domínio do governo e haverá poucas dificuldades
em promovê-las. É o caso da redução de R$ 8,6 bilhões no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), dos quais R$ 4,8 bilhões serão no Programa Minha
Casa, Minha Vida. Além disso, a ideia é utilizar recursos do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) para financiamento de parte deste programa
habitacional, hoje custeado integralmente pela União.
Além disso, também haverá suspensão de concursos
públicos, que estavam estimados em R$ 1,5 bilhão em gastos em 2016.
Ao todo, são nove medidas para promover reduções nos
gastos primários que, se tudo der certo e for mesmo como se prevê, economizarão
R$ 26 bilhões.
Mas neste angu há pelo menos dois caroços complicados. Um
deles é o adiamento do reajuste de salários dos servidores de janeiro para
agosto, o que representaria uma economia de R$ 7 bilhões. Em tempos de inflação
acelerada, a medida penaliza fortemente o bolso dos servidores. Isso ainda terá
de ser negociado com o sindicato da categoria e, portanto, não será nada fácil
conseguir sua aprovação.
O outro é a proposta espinhuda de restabelecer a
Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), que renderia R$
32 bilhões aos cofres federais. O novo imposto será cobrado sobre as transações
bancárias para financiar integralmente os gastos da Previdência Social. O
governo vai propor uma alíquota de 0,2%, acompanhada de uma redução do Imposto
sobre Movimentações Financeiras (IOF) para compensar um pouco o custo da medida.
Se aceita, a nova CPMF deverá ter uma vida de até quatro
anos. Mas, para isso acontecer, será necessário aprovação por três quintos dos
congressistas em dois turnos em cada casa do Congresso, Câmara e Senado, onde a
medida é encarada com muita resistência e a base de apoio do governo
praticamente derreteu.
Além disso, destes quatro anos, o governo Dilma existirá
apenas nos primeiros três anos. Depois, quem assumir o governo é que decidirá
se ela extingue, mesmo, ou se terá uma continuidade.
Estas medidas são tão desesperadas que a presidente Dilma
Roussef saiu de cena e delegou a seus dois ministros da área econômica a tarefa
de anunciá-las.
Aliás, lideranças empresariais vêm fazendo seguidas
manifestações de repúdio às tentativas de ressuscitar o chamado “imposto do
cheque”, deixando claro a disposição em combater abertamente qualquer tentativa
neste sentido.
Como se vê, pelo menos duas importantes medidas neste
plano, o adiamento do reajuste dos servidores e a volta da CPMF, dependem de
negociações muito complicadas e que dificilmente serão aceitas. Sem elas, o
pacote perde muito da eficácia prometida.
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